Confusão mental, a febre do idoso!
- silgeriatria
- 8 de nov. de 2023
- 2 min de leitura
Olá querido leitor,
Sei que o título pode parecer confuso, mas vou explicar o meu raciocínio.
A febre é um sinal de que algo não está bem com o nosso corpo. Essa elevação da temperatura corporal acontece após o organismo entender que há invasores e que eles precisam ser detidos. O sistema de defesa produz substâncias que são reconhecidas pelo cérebro e geram o aumento de temperatura. A área cerebral responsável pela regulação da temperatura corporal é o hipocampo. Assim, diante de febre, não temos dúvidas de que algo não anda bem e aprendemos isso muito cedo.
No idoso, entretanto, não é assim. Idosos dificilmente apresentam febre. Pode até haver uma elevação da temperatura corporal, mas ela é discreta em comparação a indivíduos mais jovens. Com o envelhecimento, o sistema de defesa passa a ser mais “lento”, um pouco menos sagaz. Ele demora a reconhecer algo errado e, quando reconhece, não é tão efetivo, produzindo menos substâncias pirógenas, as que produzem o aumento de temperatura. Assim, mesmo diante de infecções estabelecidas ou outras doenças que normalmente se associam a febre, a temperatura do idoso não chama a atenção.
O que normalmente acontece no individuo mais velho quando algo não está bem, é a confusão mental, ou melhor, o estado confusional agudo, também conhecido por Delirium. Quanto mais idoso, maior a chance de desenvolver o delirium. Quando a doença de Alzheimer ou outras demências já estão no jogo, aí que esse estado confusional pode vir mesmo. Isso acontece, pois o cérebro fica mais vulnerável com o passar dos anos, tanto por mudanças estruturais quanto funcionais. Então, qualquer desequilíbrio no funcionamento do corpo, acaba propiciando essa alteração. Quando eu digo qualquer, é qualquer mesmo. Uma infecção urinária, pneumonia, diminuição do sódio no sangue, a mudança de ambiente, constipação intestinal, desidratação, infarto, dengue, enfim, praticamente tudo.
E como reconhecer esse estado confusional? Antes de tudo, ele é agudo, vai surgir em dias ou horas. Normalmente, o idoso fica mais desatento, mas isso flutua ao longo do dia. Pode trocar a noite pelo dia, dormindo o dia inteiro e querendo tocar bateria à noite. Pode ficar molinho, sem querer se alimentar, quieto- o delirium hipoativo. Ou pode ficar nervoso, agitado, agressivo- o hiperativo. Também pode variar entre essas duas facetas, o delirium misto.
Quando os sintomas aparecem, é necessário investigar o quanto antes, descobrir a causa e tratar logo o problema. Reconhecer o delirium como um sinal de alerta, tal qual a febre, é o maior definidor para uma boa evolução. Assim, não esqueça, confusão mental é a febre do idoso!

Dra. Silvana Coelho Nogueira é medica geriatra, CRM 18612DF/ RQE 10216, especialista pela Universidade Federal de São Paulo e pela Associação Médica Brasileira. Pós graduada em Oncogeriatria pelo Hospital Israelita Albert Einstein. Possui Residência médica em Clínica médica pela Santa Casa de São Paulo e é formada pela Universidade Estadual do Piauí. Radicada em Brasília onde exerce sua atividade profissional desde 2011. Escreve às quintas-feiras para o portal Etarium.
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