O que entendemos sobre a Doença de Alzheimer está mudando e isso pode afetar a todos nós.
- silgeriatria
- 1 de fev. de 2024
- 3 min de leitura
Olá, mais uma quinta, mais uma coluna chegando.
Hoje, vamos falar de um momento bastante intrigante que estamos vivendo, os novos paradigmas na doença de Alzheimer. Em uma coluna anterior, falamos um pouco sobre a doença de Alzheimer e do grande pavor que ela causa em todos nós. Desde a primeira descrição pelo médico alemão Alois Alzheimer até os tempos atuais, a doença de Alzheimer vem se alastrando por todo o planeta, especialmente em virtude do envelhecimento populacional. A idade é o maior fator de risco conhecido para doença. Estima-se que em 2050, teremos 4 milhões de pessoas com Alzheimer no Brasil e algo como 153 milhões de pessoas no mundo com a doença. Levando em consideração que ela afeta a memória e a capacidade de decidir e de ser independente para atividades corriqueiras e complicadas do dia a dia, isso assusta e muito.
Entender o porquê do desenvolvimento dessa que é a maior causa de demência no mundo ainda é um desafio. Várias teorias em estudo e algumas poucas certezas. O que sabemos de fato é que a doença de Alzheimer se associa a alterações estruturais no cérebro, como a formação de placas amilóides e emaranhados neurofibrilares que parecem "tomar " o espaço dos neurônios e afetar assim o funcionamento cerebral, falando de uma forma bem simplista. As placas amiloides são depósitos de proteínas tóxicas para os neurônios e que dificultam o seu funcionamento e a conexão entre eles. Há muito nós sabemos disso, mas até então isso representava pouco na prática clinica.
Até hoje, o tratamento da doença de Alzheimer é baseado em medicamentos que tentam diminuir a degradação da acetilcolina, substância importante no sistema que responde pela memória e aprendizado, o sistema colinérgico. Esses medicamentos são os inibidores de acetilcolinesterase. Tratar com essa classe de medicamentos não traz cura, pode levar a um alivio dos sintomas, mas modifica pouco o curso da doença. Há muitas décadas, ele é o único tratamento direcionado a doença de Alzheimer. Nesses últimos anos, no entanto, o caminho tem mudado, com o surgimento de estudos que apontam para drogas biológicas com a função de diminuir a deposição de placas amilóides no cérebro. Duas drogas dessa classe tiveram seu uso autorizado e entraram nas possibilidades terapêuticas. Já utilizadas em alguns países como os Estados Unidos, são de uso endovenoso, tem um protocolo restrito, devem ser usados apenas em casos iniciais e apresentam diversos riscos, entretanto demonstram um sopro de esperança para uma doença que até então se encontrava sem alternativas terapêuticas, estacionada há 30 anos no mesmo patamar.
No fim de Novembro de 2023, foi publicado na revista cientifica Nature Aging um estudo que identifica cinco tipos diferentes de doença de Alzheimer baseado na análise de líquido cefalorraquidiano, o liquido que está no sistema nervoso central. Esses subtipos podem explicar as diferentes manifestações clínicas e evolução em pessoas que possuem o mesmo diagnóstico. Teríamos o tipo vinculado a maior produção de beta -amilóide, a hiperplasticidade, a ativação imune inata com ataque direto ao tecido cerebral e o subtipo cujas manifestações parecem se associar a alterações na barreira hematoencefálica.
A associação dessa descoberta, de novos tratamentos surgindo mesmo que de uma forma ainda incipiente traz uma sensação de renovação. Sabemos que a doença de Alzheimer é uma doença de estilo de vida, que quanto mais saudável e ativa a vida menor a chance de seu desenvolvimento, mas ainda entendemos pouco os mecanismos principais da doença no cérebro. Abrir novos caminhos para uma doença tão comum, tão debilitante e tão preocupante parece cada vez mais próximo e pode modificar o futuro de muitos idosos mundo afora.
Agora, uma observação, nossa coluna será publicada quinzenalmente a partir desta. Até a próxima!

Dra. Silvana Coelho Nogueira é medica geriatra, CRM 18612DF/ RQE 10216, especialista pela Universidade Federal de São Paulo e pela Associação Médica Brasileira. Pós graduada em Oncogeriatria pelo Hospital Israelita Albert Einstein. Possui Residência médica em Clínica médica pela Santa Casa de São Paulo e é formada pela Universidade Estadual do Piauí. Radicada em Brasília, onde exerce sua atividade profissional desde 2011. Escreve às quintas-feiras para o portal Etarium.
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