O Papel do Lítio na Doença de Alzheimer: Esperança Científica em Estudos Recentes
- Equipe Blog Dra. Silvana
- 14 de ago.
- 3 min de leitura
A Doença de Alzheimer (DA) é a forma mais comum de demência, caracterizada pela perda progressiva de memória, função cognitiva prejudicada e mudanças comportamentais. Até agora, os tratamentos disponíveis têm foco principalmente no controle dos sintomas, sem reverter os danos neurodegenerativos. No entanto, pesquisas atuais apontam para uma nova e promissora direção envolvendo o lítio — um elemento simples, acessível e com longa história de uso terapêutico.

O que revela o estudo mais recente?
Um estudo inovador, liderado pelo Prof. Bruce A. Yankner, da Harvard Medical School, publicado na revista Nature em agosto de 2025, identificou uma deficiência de lítio no cérebro como possível causa inicial da DA. A investigação mostrou que o lítio, elemento naturalmente presente no cérebro, desempenha um papel essencial na manutenção de diversas células cerebrais. Sua perda parece acelerar as alterações patológicas típicas da doença, como acúmulo de placas de beta-amiloide e emaranhados de tau, além de prejudicar a formação de mielina e o funcionamento das microglia, células responsáveis pela limpeza de detritos nas regiões cerebrais (The Washington Post, HMS Harvard).
Em modelos murinos, o composto lítio orotato em baixas doses fisiológicas conseguiu reverter sintomas de Alzheimer e restaurar funções cognitivas típicas de cérebros jovens, sem apresentar toxicidade aparente (The Washington Post, The Week, HMS Harvard).
Mecanismos neuroprotetores do lítio
Pesquisa molecular destaca que o lítio atua em múltiplas frentes neuroprotetoras:
Inibição da GSK‑3β, enzima envolvida na cascata patológica da DA. Ao bloqueá-la, o lítio reduz a fosforilação da proteína tau, diminui o acúmulo de beta-amiloide, melhora a neurogênese e a plasticidade sináptica, regula metabolismo energético e reduz estresse oxidativo e inflamação (Frontiers, Karger, PubMed).
Melhora na autofagia, favorecendo a remoção de proteínas tóxicas como tau e amiloide, por meio da inibição da inositol monofosfatase (IMPase) e modulação do mTOR (PMC, Karger).
Estabilização da homeostase do cálcio celular, bloqueando a ativação excessiva de receptores como NMDAR e mantendo a função normal do retículo endoplasmático, reduzindo neurotoxicidade (PMC, PubMed).
Evidências clínicas preliminares
Algumas análises em humanos indicam que o uso de lítio pode reduzir o risco de Alzheimer e retardar a progressão cognitiva. Uma meta-análise de 2024 concluiu que a terapia com lítio diminui o risco de DA (RR 0,59) e de demência em geral (RR 0,66) (PubMed).
Outra revisão sistemática revelou que, em modelos animais de Alzheimer, o lítio reduz níveis de beta-amiloide e tau e melhora o comportamento cognitivo. Estudos clínicos iniciais em pacientes também apontam para benefícios — embora em número reduzido — reforçando o potencial terapêutico do elemento (PubMed).
Panorama atual e perspectivas
Embora os resultados em modelos animais sejam promissores, ainda não há recomendação médica para uso de lítio no tratamento da DA em humanos, especialmente devido ao risco de toxicidade — especialmente renal e tireoidiana — e à necessidade de monitoramento clínico regular (The Washington Post, Wikipedia).
Ainda assim, o lítio emerge como um candidato fascinante para modificação da neurodegeneração, com o estudo de Yankner marcando um avanço no entendimento da doença e abrindo caminho para futuros ensaios clínicos randomizados focados em doses seguras e eficácia real em pacientes (The Week, The Washington Post, HMS Harvard).
Conclusão
O lítio — um elemento simples, econômico e com história clínica consolidada — surge como uma promessa real no tratamento ou prevenção da Doença de Alzheimer. Estudos recentes demonstram sua capacidade de reverter danos cerebrais em animais e atuar por diversos mecanismos neuroprotetores. No entanto, a efetiva transição para aplicações humanas requer ensaios clínicos rigorosos, controle de doses e avaliação de segurança. Por enquanto, continua sendo uma perspectiva intrigante e esperançosa na neurociência.
Referências
Referências principais
Estudo de Harvard/ Nature (2025) sobre deficiência de lítio e reversão em camundongos — Yankner et al. (The Washington Post, HMS Harvard).
Revisão molecular: inibição de GSK‑3β, autofagia, estabilização do cálcio (Frontiers, Karger, PMC, PubMed).
Meta-análise sobre redução do risco de Alzheimer com lítio (PubMed).
Revisão sistemática em modelos animais e alguns dados clínicos (PubMed).
Cuidados com lítio orotato e toxicidade (Wikipedia).





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